quinta-feira, 31 de janeiro de 2019
Etica e responsabilidade para superação das desigualdades
ÉTICA E RESPONSABILIDADE, PARA SUPERAÇÃO DAS DESIGUALDADES
Cleiton Antônio de Paula
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
cleitonpaulap@hotmail.com
PRÁTICAS EDUCACIONAIS E (RE) PRODUÇÃO SOCIAL
2018
Resumo: Trata-se de uma reflexão sobre as práticas educacionais nas escolas de comunidade, procurando despertar nos educadores um novo olhar sobre a pobreza, onde cada aluno de comunidade seja olhado com a mesma igualdade de qualquer outro aluno de uma escola de um bairro nobre, evitando assim a reprodução das desigualdades sociais. Refletindo sobre Paulo Freire em sua Pedagogia da autonomia, onde o autor faz um alerta sobre o comportamento ético do professor, para que sua prática possa ser a mais transparente possível e digna de admiração, por parte dos educandos, busca-se assim despertar o educador para uma prática educativa mais humana onde em seu currículo possa ter espaço para o debate e a conscientização dos alunos sobre pobreza, educação e desigualdade social. O texto é uma reflexão que se desenvolve a partir da área educacional e se insere em uma área ética para que os educadores tenham um despertar de consciência para que sua prática seja a mais sincera possível. Dentro dessa seriedade ética, procura-se levar em consideração a conscientização das questões políticas que estão por trás de cada individuo pobre que frequentam nossas precárias salas de aula, reflexo do descaso político para uma educação mais justa e igualitária. Para que isso aconteça, o nosso grande desafio é com a transformação do olhar do educador que por anos tratou o pobre e a pobreza sob uma visão elitista que sempre culpou o pobre pela sua situação, deixando de refletir sobre a historicidade da pobreza e sua raiz no contexto da sociedade brasileira que durante muito tempo abandonou o pobre a sua própria sorte.
Palavras- chave : pobreza, desigualdade, superação, ética, educação.
ÉTICA E RESPONSABILIDADE, PARA SUPERAÇÃO DAS DESIGUALDADES
Cleiton Antônio de Paula
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INTRODUÇÃO:
Atualmente o Brasil passa por um momento difícil em seu contexto político, sendo considerado o mais difícil da história, superando talvez o período da ditadura militar que durou de 1964 até 1985, deixando rastros nefastos em todo povo brasileiro. O momento chega a ser tão difícil que muitos chegam a clamar a volta da ditadura para que a lei e a ordem voltem a reinar em todos os setores da sociedade brasileira.
Tudo de mal aumentou, principalmente a corrupção e a criminalidade, essa criminalidade que chega a números alarmantes, principalmente no Rio de janeiro onde apesar de uma intervenção federal, houve quase que o dobro da violência em comparação com o período anterior a intervenção, sendo um dos motivos para verificar que a intervenção militar não ajudou e refletindo sobre nosso curso, os pobres, as pessoas negras em sua grande parte, são as que mais sofrem as consequências de uma política irresponsável do Governo Estadual e Federal em relação a segurança, a saúde e a Educação
Sobre a violência de acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2017, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os índices de violência aumentaram nos últimos anos em alguns estados do país. A pesquisa aponta que sete pessoas foram assassinadas por hora no país somente no ano de 2016.
Tivemos o privilégio de realizarmos junto a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão/Diretoria de Políticas de Educação em Direitos Humanos e Cidadania/Coordenadora Geral de Acompanhamento da Inclusão Escolar do Ministério da Educação (SECADI/DPEDHUC/CGAIE) em parceria com a Universidade Federal Fluminense oferecido pela FME (Fundação Municipal de Educação de Niterói), o Curso de Especialização Educação, Pobreza e Desigualdade Social e desta forma alcançarmos um aprofundamento sobre o fator pobreza que muito enriqueceu nossa compreensão, pois todos dizem que o problema do Brasil é a educação, ou melhor, a solução para o Brasil é a educação, mas ficou claro que somente a educação não resolve nossas mazelas sociais, é certo que muito auxilia conforme já constatados nas pesquisas
De acordo com o Ipea, para cada 1% a mais de jovens entre 15 e 17 anos nas escolas, há uma redução de 2% na taxa de pessoas assassinadas nos municípios brasileiros.
“Segundo as nossas estimativas, a probabilidade de um indivíduo com até sete anos de estudo ser assassinado no Brasil é 15,9 vezes maior de outro indivíduo que tenha ingressado na universidade, o que mostra que a educação é um verdadeiro escudo contra os homicídios no Brasil”, afirma o responsável pelo estudo, Daniel Cerqueira, doutor em economia pela PUC-Rio e técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea.
Não temos dúvida sobre a importância da educação e sua ajuda para os jovens, mas a questão intrigante é a pobreza: porque a educação não consegue acabar com a pobreza? e por qual motivo não consegue eliminar as desigualdades?.
Diante dos dados apresentados e do questionamento feito acima e refletindo sobre o eixo temático escolhido para o resumo da compreensão, o objetivo desse trabalho é despertar o educador para as práticas de reprodução da desigualdade nas escolas, bem como conscientizar cada um para evitar as práticas de exclusão social e analisar como e porquê os processos de exclusão são reproduzidos. Diante disso lança-se uma análise do porquê da importância da ética nas práticas educativas, bem como a conscientização política na qual estamos inseridos e que reproduzem o pensamento de uma camada elitizada que não se importam na formação de um cidadão crítico e sabedor de seus direitos.
DESENVOLVIMENTO:
Vimos no eixo temático, Escola: espaços e tempos de reprodução e resistências da pobreza, que os processos relacionados ás práticas pedagógicas e de gestão escolar muitas vezes reproduzem a exclusão social conforme vimos na fala do personagem Ciço:
“menino aqui aprende na ilusão dos pais. aquela ilusão de mudar com estudo, um dia. mas acaba saindo como eu, como tantos, com umas continhas. mas pra nós é uma coisa que ajuda, mas não resolve.”
E porque isso? É porque nossa concepção de educação nunca foi vista de uma forma igualitária de maneira que o conhecimento ultrapassasse aquilo que é dito nas cartilhas, nossos ensinamentos sempre privilegiaram o grau de escolaridade e não o nível de intelectualidade, sendo a nossa educação extremamente escolarizada, nunca levou em consideração as diferenças, não somente as diferenças regionais, mas todas as diferenças inerentes ao ser humano, como raça, família, renda e outros fatores que nos diferenciam mas não nos tiram a inteligência e a compreensão do mundo e da vida, pois todos aprendemos em contextos diferentes e estamos sempre aprendendo, como bem escreveu Paulo Freire :
¨A leitura do mundo precede a leitura da palavra” (Freire, 1989, p. 11). Essa frase de Paulo Freire tão reproduzida nos meios pedagógicos é de grande complexidade, pois é um marco em relação às mudanças relativas ao ensino da língua materna, uma vez que aponta para o quanto a aprendizagem e as práticas de letramento são anteriores à aprendizagem da leitura da palavra.
Quando refletimos sobre a reprodução das desigualdades na escola e em sala de aula, verificamos que as práticas de exclusão desconsidera esse aspecto de extrema importância para compreendermos o outro, pois ao considerarmos a leitura do mundo em primeiro lugar, estamos considerando o potencial intelectual de cada individuo e todo o seu conhecimento antes mesmo de entrar em uma sala de aula.
Para pensarmos em uma educação democrática devemos pensar em uma clientela diversificada e multiculturalizada onde cada um tem suas vivências e seus desafios psicológicos para enfrentar como bem lemos no eixo temático em questão, quando verificamos na imagem uma sala de aula com crianças com diversas diferenças em seu cotidiano :
“Em qualquer uma dessas visões, não há espaço para a diversidade de realidades vividas por crianças e jovens, que em muito conformam suas identidades. Por isso, como bem ressaltam Dayrell (2003), Sarmento (2003) e Abramo (2005), devemos falar de infâncias e juventudes no plural para não esquecermos as diferenças e as desigualdades que perpassam as suas condições de vida. Assim, a questão que se coloca não é apenas sobre a possibilidade ou impossibilidade de viver a infância ou a juventude, mas sobre os diferentes modos como tais fases podem ser vividas. Nessa perspectiva, a infância e a juventude constituem um grupo social diverso, no qual estão presentes diversas condições tais como a classe, a etnia, o gênero, entre outras, o que implica compreendê-los nas suas diferenças e apreendê-los como indivíduos que têm uma história, que vivenciam diferentes experiências, que são de diferentes origens sociais, com desejos e comportamentos diversos”. (curso de especialização educação, pobreza e desigualdade social ,modulo III).
Dessa maneira para que não reproduzamos as desigualdades e acentuemos as diferenças que tanto dificultam a conscientização crítica de sujeitos ativos e a permanência das crianças nas escolas, vale uma reflexão de Paulo Freire sobre a ética:
“Só somos porque estamos sendo. Estar sendo é a condição, entre nós, para ser. Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. Estar longe ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens, é uma transgressão. É por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. “(Freire, 1996, p. 18)
Ora, não estar alheio a formação moral do individuo é simplesmente não deixar de lado todo seu potêncial intelectual que antecedeu a sala de aula, bem como suas diferenças e dificuldades e sendo assim não trata-lo com um sujeito passivo e indiferente as transformações do mundo. Para isso o educador precisa de ética na medida em que a ética é responsável pelos valores que disciplinam o comportamento humano e nos faz refletir a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social. Desta forma, refletir sobre as normas é analisar aquilo que está oculto não só nas cartilhas, mas nas Diretrizes e nos parâmetros, ou seja, tudo aquilo que não esclarece e simplesmente determina e não se aprofunda na origem das diferenças, das dificuldades e principalmente da pobreza.
Querer um país mais justo, solidário e democrático é um desejo de todos, mas o educador tem sua parcela de contribuição para que isto se concretize, através de um ensino democrático e reflexivo e anti-reprodutor das desigualdades sociais, conscientizando assim cada individuo dos fatores históricos da pobreza e ensinando sobre as origens de sua condição de vida e toda dificuldade que se estende em torno dela. Conscientizando e educando os jovens, evitaremos sim a morte violenta ou outro fato que é originário em sua maioria das vezes pela classe social do individuo, mas também formaremos jovens que lutem contra essa desumanidade que é o descaso com a pobreza , como escreveu Arroyo:
“Diante da barbárie com que a infância e a adolescência populares são tratadas, o primeiro gesto deveria ser ver nelas a imagem da barbárie social. A infância revela os limites para sermos humanos em uma economia que se tornou inumana.” (ARROYO, 2004, p. 17).
Ainda sobre Paulo Freire, falando sobre a ética vale lembrar:
”Mulheres e homens, seres histórico-sociais, nos tornamos capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper, por tudo isso, nos fizemos seres éticos.” (Freire, 1996, p. 18)
Falando em comparação seria anti-etico não comparar os dados e não verificar a importãncia do bolsa família na ajuda dos menos favorecidos e sua ajuda para mudar esse quadro de desigualdade, somente a ética do educador irá faze-lo compreender que o pobre não é culpado por ser pobre e somente essa educação elitizada não será suficiente para tira-lo da marginalização e da pobreza, a ética do educador fará com que ele compreenda que não somente uma escola aberta para diversidade irá eliminar as desigualdades, é certo que estaremos dando um grande passo, é de extrema importância que se tenham também oportunidades diversificadas, respeito ao falar de cada um, e respeito a sua etnia, para isso precisamos de um governo que não veja a superação da pobreza como um assistencialismo mas sim como uma obrigação do Estado, uma luta pelo fim das desigualdades e o fornecimento de oportunidades iguais para todos.
“ Em sua fala, Ciço também nos diz sobre a escola, denunciando a falta de infra estrutura, de materialidade e de conexão com as experiências culturais dos estudantes das camadas populares. Por isso, Ciço, com muita propriedade, diz a Brandão “que a sua [educação escolar] é a sua e a minha é a sua. Só que a sua lhe fez. E a minha?”
Fica dessa forma esse questionamento, onde está a inclusão social nessa nossa educação escolarizada.
CONCLUSÃO:
Chegamos no ano de 2018 com um crescimento enorme do número de evasão escolar, é certo que a dificuldade financeira leva muitas crianças a trabalhar para ajudar a família mas a pergunta que fica é porque a escola não é atrativa para os alunos?
A escola como ferramenta de reprodução das desigualdades surgiu com o nascimento do Estado-nação e com a necessidade de se ter uma única cultura circunscrita a um único território.
Esse modelo de escola nunca foi democrático e nunca se preocupou com as diferenças, em seu objetivo o exercito cumpriu o ordenado e quem saiu prejudicado foi as camadas mais pobres.
Essa escola que não inclui e não respeita as diferenças não pode ser uma escola acolhedora, pois os seu publico frequentador em sua maioria oriundo das camadas populares, não se identifica com ela.
Um dos caminhos apontados para a transformação deste contexto e já alcançado por muitas escolas é a elaboração e implementação de um projeto político-pedagógico que promova a construção de uma escola de qualidade, proporcionando aos alunos a oportunidade de uma aprendizagem significativa. E o que é uma aprendizagem significativa ?
Ora uma aprendizagem significativa é aquela em que seja respeitada todos os direitos do aluno, bem como os direitos mais básicos do ser humano. Como bem destaca Fernández Enguita (2001), “o caminho escolhido pela escola foi o da imposição da cultura escolar – que nada mais é que a cultura dos grupos dominantes – sobre toda cultura popular, étnica, grupal. Desse modo, a cultura do grupo dominante passa a ser transformada, através da escola, na cultura de todos os cidadãos de um país”.
Contra essa concepção surgiram os movimentos sociais, procurando dar voz as minorias desse país e fazendo ouvir o grito dos excluído, que se mostravam descontentes com essa escola dita inclusiva, que demonstrava uma exclusão pedagógica institucionalizada.
Vale ressaltar a importância dos programas do governo para manter os menos favorecidos nas escolas, assim como muito tem contribuído o bolsa família e tantos outros programas que lutam no combate a desigualdade e a pobreza
Por fim cabe aos educadores nesse momento de reflexão onde o país passa por grande turbulência, pensar sua prática e sua ética com relação aos contrastes sociais e a partir dessa visão transformar os currículos que quase nada falam sobre a realidade da pobreza e sobre direitos humanos e desigualdade, e dessa forma se tornar um canal de direcionamento e inspiração para que tenhamos uma juventude consciente e crítica para conquistar seu espaço, seu lugar ao sol, mas não de uma forma passiva, mas de uma forma ativa e transformadora na luta por uma sociedade mais justa e igualitária
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